-
É a Brasil parada.
É cabeça perfurada.
É som de rajada.
É polícia emboscada.
É governador dormindo.
É a cidade reagindo,
e não conseguindo nada.
O Rio tá perdido.
O Rio tá fodido.
E tu batendo palmas pro sol no Arpoador
O subúrbio grita... Ele tá com dor. Ele tá com muita dor.
Bala mata a criança.
Bala mata a grávida.
Bala mata a senhora.
Bala mata a polícia.
Bala mata o traficante.
A bala mata o trabalhador.
O Rio é Complexo...
Complexo da Penha.
Complexo do Alemão.
Complexo da Pedreira.
Complexo da Maré.
Complexo do Chapadão.
É a complexidade de viver numa cidade sem nexo.
-
Loucura interna, mental, na Central do Brasil.
Epicentro da explosão das batidas sambásticas e fankistas.
É a filosofia da vida pop carioca futurista.
Tu corre pra escapar.
Não sabe nem se vai chegar.
É sobrevivência real da vida em perigo.
Do moleque carente maluco esquecido.
Tu é o escolhido pra achar a bala.
Na morte aleatória ou na morte encomendada.
Dos meninos da Candelária, assassinos covardes.
Chegaram à noite de mansinho, sem fazer alarde.
Arma pra cima de mim.
Arma no peito.
Arma na cabeça.
Arma na mão de quem não presta.
Arma! Gedom! no Rio de Janeiro,
O fim do mundo é o ano inteiro!
O passageiro do trem, do ônibus e das barcas.
Batalham e esperam o dia passar. Pra noite chegar!
A fuga do real é o batidão funk na cabeça.
O maneiro pra relaxar é ouvir o som de um pandeiro.
A música carioca é o remédio do cidadão no Rio de Janeiro.
A cidade dos extremos.
Da bala perdida e da alegria achada.
Tu encontra a morte. Tu encontra a sorte.
Na encruzilhada.
-
Acordar sem o sol raiar e sair de Japeri.
Pegar a aventura suburbana tremedeira.
A Central do Brasil é meu alvo central.
A invasão alucinada espaço tempo carioca.
A melodia dos trilhos me dá canseira.
É gente acordada dormindo. É gente dormindo acordada.
É um olho pro sonho. É um olho pra realidade.
Cadê o picolé? Cadê o amendoim?
Cadê aquele pastor que quer te convencer?
Ele quer te levar. Ele vai te arrebatar.
O Rio é lindo! O Rio é belo! O Rio é assalto. Te bate de chinelo.
O Rio é lindo! O Rio é belo! O Rio é assalto.
Tu se borra todo amarelo.
Numa curva em Ricardo indo pra Deodoro.
O Rambo tenta surfar e cai… O corpo fica lá.
Não curto parador. Quero o direto.
Não quero parar. Quero acelerar.
Passou Marechal, Bento Ribeiro, Osvaldo Cruz.
Madureira chegou. Não fica de caô.
A capital do subúrbio é o terreno do charme.
Não fica de bobeira, lá te passam a rasteira.
É camelô gritando.
É pivete correndo.
É motorista acelerando.
É rabuda rebolando.
O Rio é lindo! O Rio é belo! O Rio é assalto. Te bate de chinelo.
O Rio é lindo! O Rio é belo! O Rio é assalto.
Tu se borra todo amarelo.
Cabeça pra fora da janela.
Vento na cara levanta o cabelo.
Quintino passou. Zico marcou. Piedade eu nasci.
Eu entrei no Engenho... Ele é todo novo! E eu tô dentro!
Sacode massa de ferro. Mostra a ginga do subúrbio.
Liga lá com acolá e chega aqui.
Maracanã é o Clássico do concreto agitador.
Teu time perdeu, teu time ganhou. zero a zero não pode.
A rede tem que balançar!!!!
Passou a Quinta. Atravessou São Cristóvão.
Já tá aí na Central.
Multidão rapa fora.
É hora de largar.
À noite tô ai pra invadir você.
O Rio é lindo! O Rio é belo! O Rio é assalto. Te bate de chinelo.
O Rio é lindo! O Rio é belo! O Rio é assalto... Tu se borra todo amarelo.
-
O sol do Rio chega, pronto pra te fritar.
Rádio Relógio, só melodia do tempo.
Rádio Imprensa com funk dopamina cerebral.
Te deixa acordado, na pista da Brasil indo pra Central.
Big Mequi.
Big Bob.
Big Rio.
Ao som do Big Boy.
Tocando big músicas.
Nuvens passageiras não pagam passagem.
Acompanho os fios elétricos que hipnotizam.
Você dorme, você acorda.
E o destino foge do seu desejo de chegar.
O ônibus inimigo se aproxima. Encosta lado a lado de você.
Encara o cara.
Faz cara feia.
Cara de ataque.
Cara de defesa.
Pedra voa.
Pedra quebra.
Pedra machuca.
Pedra sangra.
É a Faixa de Gaza na faixa urbana da cidade do caos.
-
O sol fortalece o carioca.
A vida louca agitada da batalha diária.
Ricocheteia nos vários bairros.
Visuais mutantes de culturas diversas.
São muitos Rios!
Com conflitos intelectuais,
dos habitantes pensantes.
Cada local tem seu perigo e sua alma.
Se você gosta, levanta e bate palma.
O Rio é brincadeira pro pessoal de Madureira.
O Rio é loucura pro pessoal de Cascadura.
O Rio é safadeza pro pessoal de Santa Tereza.
O Rio é putaria pro pessoal de Olaria.
O Rio é hell! … pro pessoal de Honório Gurgel!
Pra encarar de peito aberto a bala perdida,
o carioca mete o pé na porta e arrepia.
Cada comunidade tem o seu dialeto.
Tem sua área minada. Tem seu alfabeto.
O Rio é divino pro pessoal de Quintino.
O Rio é tudo de bom pro pessoal do Leblon.
O Rio é de boa pro pessoal da Gamboa.
O Rio é igual Luau pro pessoal do Vidigal.
O Rio é pra rir!!! Pro pessoal de Acari!!!
Muros pixados. Marcas urbanas.
Trens cortam como navalha o subúrbio geral.
Crianças zona sul brincam no play,
as da zona norte entram na porrada e se dão mal.
O Rio é perdição pro pessoal da Abolição.
O Rio é moleque pro pessoal de Ricardo de Albuquerque.
O Rio é tabu pro pessoal do Grajaú.
O Rio é sagrado pro pessoal de São Conrado.
O Rio é cruel pro pessoal da Vila Izabel.
Prédios e barracos desenham o Rio.
Pipas e rajadas pintam o céu.
A guerra do asfalto gera cicatriz no coração carioca.
Se tu é vacilão, o matador vem e te pipoca.
O Rio é conquista pro pessoal do Alto da Boa Vista.
O Rio é fé pro pessoal do Jacaré.
O Rio é diversidade pro pessoal do centro da cidade.
O Rio é burguesia pro pessoal da Freguesia.
O Rio tá que tá, pro pessoal de Paquetá!
O Rio é! O que você quiser!
O Rio é livre.... O Rio e free!
O Rio é multi!
O Rio é tudo!
-
A cidade sem herói.
Acorda pra batalha carioca.
Pra lutar pelo pão.
Pra sobreviver na encruzilhada,
cheia de super inimigos nada bom.
Bate bola.
Bate pé.
Bate trem.
Bate boca.
Bate sono.
Bate fome.
Bate estaca funk sonoro.
Da batida dopada.
Batman, o cavaleiro das trevas cariocas.
Bate fora da cidade perigo. É perigo!!!
Procura sua liga. Se liga, cara!
Não adianta morcegar pras bandas suburbanas.
A milícia te pega.
O traficante te pega.
A bandidagem te pega.
A polícia te pega.
E descarrega.
Sua armadura não dura um segundo.
Esburacando sua barriga chapada.
Bate na sua cara.
Procura seu Robin lá em copa.
No Rio, só tem Mulher Maravilha.
Que esculacha Super-Homem metido a machão.
Volta pra Gotham.
Volta pra Metrópolis.
Volta pros States.
Sai fora daqui!
O Flash vem te buscar.
Vai te pegar no colo. Vai te arrastar.
É na velocidade da luz,
que você vai se mandar.
-
É na rua que tu vive.
É na rua que tu morre.
É na rua que tu foge.
E não escapa do tapa.
Estrelas da morte que iluminam o mal.
O asfalto trinca com o pneu do Monza Tubarão.
O muro que isola o carioca dos trilhos.
Tu escuta, ele vem. Tu escuta ele vem.
É o som do ritmo da carcaça do trem.
Tu vive na pipa.
Tu morre na bala.
Tu vive na pelada.
Tu morre na vala.
Transolímpica, Transoeste, Transbrasil
e as trans da Prudente de Morais.
O Rio te teletransporta para os lugares mais imorais.
Biquini colorido totalmente invisível,
salta aos olhos de quem nunca enxergou.
O prazer carioca é o último desejo,
de quem nunca desejou.
O som do trenzão.
O som do busão.
O som do três oitão.
É o ritmo do suburbano cidadão.
Você encontra os amigos no cemitério.
Alguns tão vivos,
e te abraçam.
Outros tão mortos,
e querem um abraço.
A vida no Rio é de adrenalina viciante.
Momentos marcantes.
Te tornam um livro de aventuras urbanas,
do bêbado cambaleante.
Tu esbarra na morte.
Tu tropeça na morte.
Tu encara a morte.
Tu esfaqueia a morte.
A cidade é barril de pólvora,
que o carioca adora mergulhar.
Acende o pavio. Vem fogo.
Quero explodir e cair em Cordovil.
Tu chora.
Tu rir.
Tu não sente nada,
mas tu tem coragem
de encarar… O Rio de Janeiro.
-
Vou te falar uma parada que correu pelo mundo.
Um novo hormônio foi descoberto.
Que circula nos neurônios dos funkeiros, sambistas e boêmios.
Que circula pelos asfaltos quentes e sujos da cidade.
Distribuídos nas mentes mais criativas e sacanas do planeta.
Os neurocientistas chegaram no Rio,
E se misturaram.
Foram parados pelos camelôs da Uruguaiana.
Seguraram os caras.
Botaram o dedo na cara,
e cantaram:
Aí gringos!!!
Nada de adrenalina.
Nada de serotonina.
Nada de endorfina.
Vou te falar tudo do hormônio carioca que alucina.
Tú é malandro... Tu tem hormônio.
Cariocadrenalina, o hormônio da malandragem,
que as meninas cariocas gostam porque tem muita sacanagem.
No Rio tu aprende o jeito de enganar.
Da lábia sincera das palavras doces.
Que tomam a sua mente.
Que seduz a meninada assanhada e danada.
Tu deu mole? Tu perdeu!!!
Fica atento ao movimento carioca sedutor.
Que te puxa pro cantinho, te dá um amassinho e rouba seu amor.
Tu vira Cinderela… Perde seu dinheiro,
Aí tu nota, CARAAACA!!! Tô no Rio de Janeiro.
Malandragem tá no sangue. Malandragem salivática.
Cariocadrenalina tá ativa ritalínica no neurônio marginal.
Faz racha na caixa craniana, balança o pré-frontal.
Tem malandro...
Tem Bezerra.
Tem Martinho.
Tem Dicró.
Tem Kid Moringueira.
Tem malandra...
Tem Jovelina.
Tem Anitta.
Tem Martinália.
Tem Sandra de Sá.
Tu quer clonar o hormônio carioca?
Quer espalhar o hormônio pela Terra?
Faz isso mermo, meu irmão.
Acabam as brigas, acabam as guerras.
Cariocadrenalina... Na ginga.
Cariocadrenalina... No passinho.
Cariocadrenalina... No beijinho.
Cariocadrenalina... No charme.
Cariocadrenalina... Na cantada.
-
Maria de Lourdes, a freira acanhada
foi enviada pro Rio de Janeiro.
A igreja pediu.
A igreja implorou.
Ela ouviu, e aceitou.
Maria chegou.
A comunidade acolheu.
O santo sorriu.
Ela passou a orar com fervor.
À noite tem missa.
A igreja tá vazia.
Cadê os jovens? Eles não estão lá.
O santo guiou. E Maria de Lourdes foi resgatar…
Os jovens no meio do baile.
Ela sentiu o batidão. O batidão do coração.
Acendeu sua paixão. E queria pecar.
Maria ouviu o Play da Furacão 2000.
Não resistiu.
Mergulhou na pista.
Puxou o boy sem camisa.
E começou a dançar.
O cara meteu o ar no cangote.
Os pelos subiram.
Maria alucinou.
E gritou sem parar.
Pegou o cordão.
Laçou o menino.
Deu um puxão.
Peito com peito.
Meteu um beijão.
Ela sentiu o batidão. O batidão do coração.
Acendeu sua paixão. E queria pecar.
Maria de Lourdes, a freira acanhada.
Foi arrebatada.
Pra infernada.
Do mundo mais maneiro,
que é o Rio de Janeiro.
A cidade do pecado, não tem pena de ninguém.
Pisou no Rio, você sente um arrepio. E vai pecar também.
Ela sentiu o batidão. O batidão do coração.
Acendeu sua paixão. E danou a pecar.
-
Liga o neurônio do ativo mental.
Do suburbano real. Alegria virtual.
Os ossos elétricos ligam o marginal.
O teclado biônico comanda a Central.
Os bytes cariocas impulsionam o carnaval.
Bit bate na batucada carioca.
Vou hackear sua mente seus neurônios vão gritar.
Fazer suas sinapses explodirem em hexadecimal.
Algoritmo da caozada que codifica o Funk.
Eletrônico sangue bom.
Digital é Rio de Janeiro. Analógico é o puteiro.
Digital é Madureira. Analógico é falar besteira.
Digital é Irajá. Analógico é roubar.
Digital é Benfica. Analógico é a política.
Digital é o carioca. Analógico é o idiota.
O trem programado pra nunca chegar.
Imputo o vírus na catraca da estação.
O curto circuito eletriza o vagão.
O banco treme.
Balança os componentes humanos.
A arma é a interface entre o bandido e o carioca
Terabytes de bala entram no corpo robotizado
Desconecta o sol e entra o temporal.
O Canal do Mangue invade o asfalto e joga o lamaçal.